domingo, 17 de julho de 2011

Solilóquio


    Vira-latas ao longe anunciam a chegada da madrugada. Em meio à escuridão o som se propaga mais velozmente que a luz, que se contenta em cintilar pontualmente.
     Qualquer coisa é ouvida de quando em quando...
   Eles se divertem  brincando com a Lua. E se importam com os ignorados, numa rara atitude de reconhecida nobreza.
    Soltos, tripudiam dos focinhos que se acotovelam na base dos portões. Presos ou soltos esbravejam contra os malditos equilibristas, que se lambem indiferentes do alto dos muros, e não se contentam com um único teto.
      É tempo de virar latas. E revirar em busca do que foi deixado pra lá, sem valor, restante. Abandonado ou esquecido, agora assumem o poder de sugerir àqueles tem somente uma vaga, turva e obscura impressão do que perseguem.

     O espaço assume uma outra dimensão. Tudo e todos se tornam notáveis, diferenciados.
  Olhos à espreita, não curiosos, e sim estrategicamente vigilantes em relação a cada passo, que eventualmente oferece uma ansiada possibilidade. Sob as solas, ao faro então se aliam, e oportunisticamente garantem, à sorrelfa, à despeito, a divisão da riqueza.
    Mas eis que enfim, inconvenientemente, de cantos que se desentocam das árvores, juntamente com o ronco dos motores à diesel, outorga-se o final deste universo de sonhos, fantasmas e sombras, trazendo à baila o ferro em brasa sob a ofuscante e monotemática luz do sol.

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