quarta-feira, 27 de julho de 2011

Volúpia

 
    .
 

       Meu corpo é todo. Meu coração vibra sem ter nem porque. Ehhh!
       Minha boca devora minha língua, lábios e dentes.
       Quero mais! Quero a displicente. Insone desejo a insistente patrona da incômoda lide.
       Ora, não há mais demanda, dada a oferta fora de hora. Não é oferta, na verdade é mais, é volúpia incontinenti.
       Aconchego mal disfarçado de pretensões. Pouco importa!
       Espreita por entre as apertadas frestas da renda. Por sobre as verticais estreitas e convergentes que deliciosamente ressaltam o que me faz salivar. E viajar solitariamente na umidade incandescente dos delicados recônditos. Ahhh! Dos sugeridos que vem à mente quando se fecham os olhos.
      Insinuada! Sinuosa! Atávica e deliciosa inquietude para o órgão vômero nasal.
      Pelos e papilas gustativas. Mãos que inacreditavelmente se contem com maliciosos ajustes. Aquecidas e devassas!
      E facilmente conquistam um trêmulo gemido. Não pára...
      Inútil pretensão de viver eternamente mergulhado.
      Seja como, gozemos o fácil ronronar que soa com o indiscreto olhar boquiaberto...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Orgânico

   
       Reboco e luzes queimadas. 
       O verde que brota das vigas.
       A fuligem que dá os matizes da inapelável passagem do tempo, num persistente descompasso em relação à inércia de nossas estéticas retinas.
       A flanela que civilizadamente enxuga.     
 O injustificadamente repelido lodo, insistentemente incrustado, justo limbo que impõe , indiferentemente à falta de reconhecimento de seus pais, o triunfo da vida sobre o inerte inodoro.

domingo, 17 de julho de 2011

Solilóquio


    Vira-latas ao longe anunciam a chegada da madrugada. Em meio à escuridão o som se propaga mais velozmente que a luz, que se contenta em cintilar pontualmente.
     Qualquer coisa é ouvida de quando em quando...
   Eles se divertem  brincando com a Lua. E se importam com os ignorados, numa rara atitude de reconhecida nobreza.
    Soltos, tripudiam dos focinhos que se acotovelam na base dos portões. Presos ou soltos esbravejam contra os malditos equilibristas, que se lambem indiferentes do alto dos muros, e não se contentam com um único teto.
      É tempo de virar latas. E revirar em busca do que foi deixado pra lá, sem valor, restante. Abandonado ou esquecido, agora assumem o poder de sugerir àqueles tem somente uma vaga, turva e obscura impressão do que perseguem.

     O espaço assume uma outra dimensão. Tudo e todos se tornam notáveis, diferenciados.
  Olhos à espreita, não curiosos, e sim estrategicamente vigilantes em relação a cada passo, que eventualmente oferece uma ansiada possibilidade. Sob as solas, ao faro então se aliam, e oportunisticamente garantem, à sorrelfa, à despeito, a divisão da riqueza.
    Mas eis que enfim, inconvenientemente, de cantos que se desentocam das árvores, juntamente com o ronco dos motores à diesel, outorga-se o final deste universo de sonhos, fantasmas e sombras, trazendo à baila o ferro em brasa sob a ofuscante e monotemática luz do sol.

Tolices a bombordo

       Atitudes, posicionamentos, ideologias naftalenas. Liquidação de grifes estilizadas promitentes de distinção.
       Vermelho ou preto amarelados, pavilhões desbotados desfraldados insistentemente com a fidelidade dos  que de imediato e sempre permanecem descobrindo as Índias (sic).   
       Pretensos navegadores, piedosos devotos, crentes de suas cartas que invariavelmente conduzem para a mesma direção nenhuma, inadvertidamente datadas em face da discreta marola que embala os quadris dos ignorantes.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Metal

           Fio que recorta, obedientemente, um longo caminho entre o pão e a carne, fazendo verter saciedade, sangue, prazer e dor.
           Reluzente, fosco, cego ou não, mas que sempre arregala.
           Trespassa, serrilha, abre picada, lima.
           Aponta escarifica.
           Lâmina purificadora, precisamente instrumentalizada de encontro ao que Ele insistentemente manifesta em nossos corpos.
           Ataque e defesa no abençoado tilintar do metal, e no ponderado e opaco impacto do inerte no animado, que pulsa.
           Nos pulsos, na interrupção das correntes vitais, no extirpar do que jaz inanimado, na furiosa pungência com que secciona grilhões.
           Gumes infectantes, seladores de pactos graças à sua capacidade de imiscuir, não obstante o cabo e a bainha que inutilmente se propõem a ofertar segurança a quem é seduzido pelos riscos.